Na terça-feira, 28 de outubro de 2025, milhares de fiéis encheram o Santuário São Judas Tadeu em Aracaju, Sergipe, para o encerramento da novena em honra ao santo patrono das causas impossíveis. A celebração, que teve início em 19 de outubro, culminou com uma missa solene presidida por Dom Josafá Menezes, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, em um momento que uniu devoção, música e tradição. O santuário, também conhecido como Igreja dos Capuchinhos, no bairro América, vibrou com cantos, incensos e o cheiro de velas acesas — o clima era de gratidão, mas também de urgência: muitos vieram pedir cura, emprego, reconciliação familiar. São Judas Tadeu nunca esteve tão presente.
Sete missas, sete rostos, uma só fé
O dia foi marcado por uma programação intensa: sete celebrações eucarísticas, cada uma com seu sacerdote, seu coro e seu ritmo. A primeira, às 5h30, foi presidida por Frei Mário Sérgio, OFMCap., com o canto da Família Canarinhos de Deus. A última, às 17h30, foi a mais esperada. Não era só uma missa — era um momento histórico. O arcebispo, com voz calma mas firme, lembrou que São Judas não é um santo de emergência, mas um companheiro de caminhada. "Ele não aparece quando tudo está perdido. Ele caminha conosco quando ainda não vemos a saída", disse, em referência à tradição de invocar o apóstolo em situações desesperadoras.Entre as demais celebrações, destacaram-se a missa das 15h, presidida por Frei Marcos Martins, Ministro Provincial da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, e a das 12h, comandada por Pe. Juarez Lima, da Capelania Militar, que trouxe uma dimensão inesperada: a presença de militares e familiares de soldados em missões. "Muitos não vêm por causa da fé. Vêm porque não têm mais onde olhar", contou um soldado após a celebração.
Outros pontos de devoção no Brasil
Enquanto Aracaju celebrava, centenas de fiéis se reuniam em outros santuários. Em Sorocaba, São Paulo, o Santuário São Judas Tadeu na rua Valter Luís D'Ávila, 171, lotou até a praça externa. A última missa, às 19h, foi acompanhada por um coral de idosos que cantavam com os olhos fechados, como se estivessem em conversa direta com o santo. A quermesse, com barracas de comidas típicas e velas coloridas, durou até a meia-noite.Em Palmeiras, Minas Gerais, a paróquia já havia celebrado seu 7º dia da novena em 25 de outubro, com o tema "Com São Judas, somos Peregrinos da Esperança!". O evento, transmitido ao vivo no YouTube, atraiu mais de 12 mil visualizações. A paróquia, ativa nas redes sociais, mantém contato direto com os fiéis pelo WhatsApp: (31) 3312-1387. "Muitos nos enviam mensagens de agradecimento depois de receberem um emprego, ou de um filho voltar para casa. São histórias reais, não lendas", contou a coordenadora da pastoral.
Por que São Judas Tadeu?
São Judas Tadeu, um dos doze apóstolos de Jesus, é o único que, segundo a tradição, nunca abandonou a fé mesmo diante da perseguição. Sua imagem tradicional traz dois símbolos: a Bíblia, que representa sua dedicação à evangelização, e o machado, que remete ao seu martírio — decapitado por sua coragem em pregar o evangelho em regiões hostis. "Ele não é o santo da sorte. É o santo da persistência", explicou Frei Marcos José durante a missa das 7h. "Ninguém espera que ele resolva tudo. Mas muitos sentem que, por ele, não estão sozinhos no sofrimento."A novena, que se estende por nove dias antes da festa litúrgica, é uma prática antiga da Igreja Católica, com raízes no século XVIII. Em Aracaju, a tradição se fortaleceu nos anos 1980, quando a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap.) assumiu a administração do santuário. Desde então, o local tornou-se um dos mais importantes centros de devoção do Nordeste. Em 2024, cerca de 180 mil pessoas passaram pelo santuário durante o mês de outubro — número que, segundo a diretoria, deve ser superado este ano.
O que vem depois?
Apesar do encerramento da novena, a devoção não para. O santuário de Aracaju mantém missas diárias e atende pedidos de oração o ano todo. Além disso, a cada 28 de outubro, a paróquia lança uma nova campanha de doação de alimentos e roupas, em nome de São Judas. "O santo intercede. Mas nós somos os seus braços", diz Frei Albervan Pinheiro. Em 2025, foram arrecadadas mais de 5 toneladas de alimentos, distribuídas a famílias em situação de vulnerabilidade nos bairros de periferia.Ainda há mistério em torno da origem da devoção ao santo no Brasil. Alguns historiadores apontam para a influência de imigrantes italianos e portugueses, que traziam imagens de São Judas em suas malas. Outros lembram que, em tempos de crise econômica e violência, a figura do apóstolo que nunca abandonou a fé se tornou um refúgio espiritual. "Hoje, ele não é só um santo de pedidos. É um símbolo de resistência", concluiu Dom Josafá.
Frequently Asked Questions
Por que São Judas Tadeu é chamado de "santo das causas impossíveis"?
A tradição atribui a São Judas Tadeu o título de "santo das causas impossíveis" porque, segundo relatos antigos, ele era o apóstolo menos invocado pelos fiéis por causa da confusão com Judas Iscariotes. Assim, quando alguém enfrentava uma situação desesperadora, recorria a ele com fé, e muitos relataram milagres. A Igreja reconheceu essa devoção e oficializou o título, especialmente após os séculos XVIII e XIX, quando as crises sociais e econômicas aumentaram a busca por intercessores.
Qual a diferença entre novena e festa litúrgica de São Judas Tadeu?
A novena é um período de nove dias de orações e celebrações que antecedem a festa litúrgica, que ocorre sempre em 28 de outubro. Enquanto a novena é um tempo de preparação espiritual, com missas, confissões e pedidos, a festa litúrgica é o dia oficial da memória do santo na Igreja Católica, marcado por celebrações solenes, como a missa presidida pelo arcebispo em Aracaju. A novena é devocional; a festa é litúrgica.
Onde mais no Brasil há grandes celebrações de São Judas Tadeu?
Além de Aracaju e Sorocaba, destaca-se o Santuário de São Judas Tadeu em São Paulo, no bairro do Ipiranga, que recebe mais de 200 mil fiéis por ano. Em Belém, no Pará, a festa é marcada por procissões fluviais. Já em Belo Horizonte, a paróquia da Pampulha realiza a maior quermesse do interior de Minas Gerais. Cada região tem sua tradição, mas todas compartilham o mesmo núcleo: a busca por esperança em tempos difíceis.
Como é feita a imagem tradicional de São Judas Tadeu?
A imagem tradicional mostra São Judas com uma Bíblia na mão esquerda — símbolo de sua dedicação à evangelização — e um machado na direita, que representa seu martírio por decapitação. Ele costuma estar vestido com túnica e manto, e muitas vezes segura um medaíon com a imagem de Jesus. O machado é o elemento mais significativo: não é um símbolo de violência, mas de coragem até a morte. Muitos fiéis levam réplicas dessa imagem como amuleto de proteção, mas a Igreja enfatiza que o verdadeiro poder está na fé, não no objeto.
Sandra Blanco
outubro 31, 2025 AT 00:59Isso tudo é bonito, mas cadê a caridade de verdade? Enchem a igreja de vela e depois deixam as famílias na miséria. São Judas não é um talismã, é um chamado pra agir.
Se fosse verdadeira fé, ninguém saía da missa sem levar um pacote de arroz pra alguém.
Henrique Seganfredo
novembro 1, 2025 AT 08:30Aracaju chamando de tradição o que é só superstição barata. O machado? A Bíblia? Isso é folclore católico, não fé. Eles confundem ritual com espiritualidade.
Na Europa, ninguém faz isso mais. Só no Brasil que acredita em santo de emergência.
kang kang
novembro 2, 2025 AT 08:28Isso aqui é o que a humanidade faz quando não tem controle: pede ajuda pra um fantasma que vive no céu 🙏
Mas... e se for real? E se ele realmente caminha com a gente? 🤔
Se eu tivesse perdido tudo, eu também iria. Não é fé, é sobrevivência espiritual. E isso é lindo, mesmo que a ciência não entenda.
Juliana Ju Vilela
novembro 3, 2025 AT 16:01Meu Deus, que emoção ver tanta gente unida assim! 💖
Se cada um levasse só um sorriso pra casa depois disso, já valeria tudo. O mundo precisa disso mais do que de qualquer notícia ruim.
Parabéns a todos os padres, corais e fiéis que fizeram isso acontecer!
Jailma Andrade
novembro 4, 2025 AT 20:22A devoção a São Judas Tadeu no Brasil é um fenômeno cultural profundo, que transcende a mera religiosidade e se entrelaça com a história da imigração, da resistência popular e da memória coletiva.
É importante não reduzir isso a mero folclore. Essa prática carrega significados sociológicos que merecem ser estudados, não apenas celebrados ou criticados.
Leandro Fialho
novembro 5, 2025 AT 04:21Vi um cara na fila da missa das 5h30 chorando sem fazer barulho. Tinha uma foto do filho na mão.
Não preciso entender o que ele acreditava pra sentir que aquilo era real. Às vezes, o que a gente precisa não é de milagre. É de alguém que entenda que a gente ainda tá aqui, tentando.
Eduardo Mallmann
novembro 5, 2025 AT 08:28É inegável que a liturgia da novena de São Judas Tadeu, em sua estrutura ritualística e simbólica, representa uma expressão teológica complexa, profundamente enraizada na tradição patrística e na espiritualidade capuchinha.
Contudo, a banalização contemporânea - com velas coloridas, quermesses e apelos mercadológicos - desvirtua a essência espiritual, transformando o divino em espetáculo devocional. É uma tragédia hermenêutica.
Timothy Gill
novembro 7, 2025 AT 02:47Todo mundo fala de milagre mas ninguém fala que o santo é o único apóstolo que morreu de verdade por falar a verdade
Se você não tá perdido não precisa dele
Se tá perdido ele tá contigo mesmo que você não veja
Point blank
David Costa
novembro 7, 2025 AT 22:34Se vocês acham que só Aracaju tem devoção, tá errado. Em 1987, quando eu era criança em Recife, a gente ia à capela da Rua da Aurora com a família toda. A imagem era de madeira, pintada à mão, e o padre falava em latim mesmo. As velas eram de cera de abelha, compradas na feira de São José. A gente não pedia emprego, pedia força pra não desistir.
Hoje, tudo virou marketing religioso. Virou influencer de fé. As pessoas postam foto com a vela e esquecem de rezar. A fé não é um post. É um silêncio que a gente carrega no peito. E isso, ninguém vê nas redes.
Willian de Andrade
novembro 8, 2025 AT 18:21eu fui na missa das 15h e o coro ta quase morrendo de tanta canta mas ainda cantou como se fosse a ultima vez
um velho sentado na frente tava segurando uma foto de um garoto e falando baixo
nao sei o que ele dizia mas eu chorei sem querer
isso é mais real q qualquer post no ig
Thiago Silva
novembro 10, 2025 AT 10:00Esse comentário do Frei Marcos sobre São Judas não ser de emergência... isso me tocou fundo.
Eu sempre achei que era só pra quando tudo dava errado. Mas e se ele estiver com a gente desde o começo? E se a gente só não percebe porque tá com os olhos fechados?
Hoje eu vou rezar não pra pedir, mas pra agradecer por ele já estar aqui.
Naira Guerra
novembro 10, 2025 AT 14:47Isso tudo é perigoso. A Igreja não deveria permitir que pessoas acreditassem que um santo resolve problemas materiais. Isso é uma heresia disfarçada de devoção.
Se você quer emprego, estude. Se quer cura, vá ao médico. Se quer paz, mude de atitude. Não espere milagres de um homem morto há 2000 anos.
Francini Rodríguez Hernández
novembro 11, 2025 AT 01:02minha vó sempre dizia que saudade de quem morreu é como vela acesa: nao apaga, só muda de lugar
hoje eu entendi
quando a gente reza, a gente não ta pedindo pro santo fazer nada
ta lembrando que ele ainda ta aqui
e que a gente também ainda ta aqui