O inflação oficial do Brasil voltou a subir em setembro de 2025, registrando alta de 0,48% após a queda de 0,11% no mês anterior. Na quinta‑feira, 9 de outubro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Brasília) divulgou os números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – setembro/2025Brasília. No acumulado de janeiro a setembro, o índice somou 3,64%; nos últimos 12 meses, chegou a 5,17%, superando a marca de 5,13% do período anterior.
Até então, a tendência era de leve desaceleração. Analistas entrevistados pela Reuters esperavam alta de 0,52% em setembro e 5,22% no cumulativo de 12 meses. A surpresa positiva, porém modesta, indica que a inflação ainda respira, mas com pressão crescente em alguns setores.
Nos últimos quatro anos, setembro nunca tinha registrado aumento acima de 0,4%. O retorno ao patamar de 0,48% coloca o mês como o de maior alta mensal desde 2021, um sinal de alerta para consumidores e para o Comitê de Política Monetária (COPOM).
O responsável técnico pelos números, Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE, apontou que a energia elétrica foi o principal vilão: de variação negativa de -4,21% em agosto, a +10,31% em setembro, contribuindo com 0,41 ponto percentual para a taxa mensal.
Segundo Gonçalves, "A alta da energia ocorreu em decorrência do fim do Bônus de Itaipu, que concedeu descontos nas faturas de agosto. Além disso, permaneceu em vigor a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos".
Além da luz, alimentos e combustíveis também apresentaram leves elevações, mas nenhum deles chegou a influenciar o índice de forma tão expressiva quanto a eletricidade.
Banco Central do Brasil acompanhou a tendência e, junto ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revisou a projeção de inflação para 2025, agora estimada em 4,8% – queda em relação à projeção anterior de 5,1%.
Em entrevista ao jornal UOL Economia, o economista-chefe do Ipea, Carlos Aurora, ressaltou que "a queda no Bônus de Itaipu e a manutenção da bandeira vermelha criam um efeito cascata nas contas de luz, que acaba repercutindo no consumo de outros bens".
Os mercados de renda fixa reagiram com leves quedas nas taxas de juros futuros, enquanto analistas de bancos de investimento alertam para a possibilidade de ajuste da taxa Selic na reunião do COPOM de 5‑6 de novembro, caso a tendência de alta persista.
O panorama regional destaca São Luís, capital do Maranhão, como a capital com maior inflação em setembro, 1,02% – quase o dobro da média nacional. O salto foi impulsionado por um aumento de 27,30% na energia elétrica residencial, consequência de um reajuste de 17,46% nas tarifas da Equatorial Energia S.A., vigente desde 28 de agosto.
Famílias com renda de até cinco salários mínimos sentiram o peso da conta de luz: o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,95% entre esse público, contra 0,52% na média nacional.
Esses números têm efeito direto nos ajustes salariais, no valor do salário‑mínimo e nos benefícios previdenciários, que são indexados ao INPC divulgado em novembro.
O próximo relatório do IBGE, referente a outubro, será publicado na primeira quinzena de novembro. Analistas esperam que a inflação de outubro se mantenha próxima de 0,45%, mas há sinais de que a energia pode continuar pressionando, sobretudo se a bandeira tarifária permanecer no patamar vermelho.
Se a tendência de alta se confirmar, o COPOM pode decidir por um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, buscando ancorar as expectativas de inflação ao redor da meta de 3,5%±1 ponto.
Para os consumidores, a mensagem é clara: ficar de olho na conta de luz, buscar opções de tarifa fixa ou energia renovável, e acompanhar as negociações coletivas que repercutem o INPC nos salários.
A conta de luz passou de queda de -4,21% em agosto para +10,31% em setembro, aumentando o gasto médio das residências em cerca de R$ 15‑20 por mês. Para famílias de baixa renda, esse acréscimo pode representar até 3% da renda familiar, pressionando o consumo de outros bens.
Se a pressão da energia se mantiver, o COPOM tem alta probabilidade de elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual na reunião de 5‑6 de novembro, visando conter a expectativa de inflação e ancorar a meta de 3,5%±1 ponto.
IPCA mede a variação de preços para toda a população e serve como referência de meta de inflação para o Banco Central. O INPC, por sua vez, acompanha a variação de preços para famílias com renda mensal de até 40 salários mínimos e é usado para reajustar salários, benefícios e o salário‑mínimo.
A capital maranhense registrou alta de 27,30% na conta de luz após o reajuste de 17,46% nas tarifas da Equatorial Energia S.A.. Esse aumento, somado ao peso da energia no orçamento familiar, puxou a inflação local para 1,02%.
O IBGE deve publicar os números de outubro na primeira quinzena de novembro de 2025, antecedendo a reunião do COPOM marcada para 5‑6 de novembro.
Cris Vieira
outubro 10, 2025 AT 04:04A energia elétrica realmente puxou a inflação, e o ajuste de tarifa vai pesar mais nos próximos meses.