CazéTV: quem é Casimiro Miguel, o rosto que desafia a Globo nas transmissões esportivas

CazéTV: quem é Casimiro Miguel, o rosto que desafia a Globo nas transmissões esportivas
Ricardo Gravina set, 6 2025

Casimiro, do improviso ao topo do streaming esportivo

Um streamer carioca, filho de imigrantes portugueses e sem diploma universitário, virou a cara mais reconhecida do esporte ao vivo na internet no Brasil. Casimiro Miguel Vieira da Silva Ferreira, o Cazé, nasceu em 20 de outubro de 1993, no Rio, estudou Jornalismo, mas não concluiu o curso. O que poderia ser uma limitação virou combustível: ele montou uma forma de transmitir e comentar jogos do jeito que fala com os amigos — direta, engraçada e com bom humor ácido.

O primeiro palco foi o Esporte Interativo, onde apresentou o EI Games e aprendeu as rotinas de TV enquanto criava, no YouTube, o canal De Sola, feito de humor e futebol. Em janeiro de 2019, passou pelo SBT Sports Rio, comentando jogos ao lado de Pedro Certezas durante as férias dos titulares. Era o início de uma transição: do bastidor de canal esportivo para a linha de frente de um novo jeito de consumir esporte.

O ponto de virada veio em 2021, quando ele iniciou lives diárias na Twitch. A fórmula juntava futebol, reação a lances e notícias, e piada boa na hora certa. A expressão “meteu essa?” escapou da live, virou bordão e meme — e fez o público voltar todo dia. Até o fim daquele ano, Cazé estava entre os maiores streamers do país e era um dos canais mais assistidos na plataforma, puxando uma audiência jovem que já não se via fixada à TV aberta.

A guinada para o papel de concorrente real a emissoras tradicionais aconteceu em novembro de 2022, com a criação da CazéTV na esteira da Copa do Mundo do Catar. Ali, ele deixou de ser só o apresentador e virou também empresário, com uma marca própria para transmitir eventos e montar programas. O lançamento foi turbinado por jogos ao vivo e cobertura diária de bastidores, e gerou picos históricos de audiência no YouTube no Brasil.

A história por trás da marca costuma ser mal contada nas redes. Cazé não é o dono majoritário do canal que leva seu apelido. A CazéTV é uma parceria: ele é sócio minoritário e o rosto da operação; a maioria pertence à LiveMode, empresa criada por Edgar Diniz e Sérgio Lopes, dois ex-executivos do finado Esporte Interativo. Essa estrutura explica o salto rápido de escala: o carisma e a comunidade construídos por Cazé, somados ao maquinário de negociação, produção e distribuição montado pela LiveMode.

O catálogo de eventos foi engordando com ambição. Estão na lista a Copa do Mundo de 2022, o Mundial de Clubes de 2025, os Jogos Pan-Americanos de 2023, a Olimpíada de Paris em 2024 e a Copa do Mundo de 2026. Em território nacional, a CazéTV entrou em campeonatos como Paulistão, Copa do Nordeste, Brasileiro Feminino e partidas do Brasileirão, em acordos vinculados à conta da Liga Forte União administrada pela LiveMode. O efeito foi imediato: onde havia resistência ao digital, passou a haver público fiel, chat engajado e marcas interessadas.

O que explica esse alcance? Cazé fala com milhões como se falasse com um amigo. Ele narra, reage, dá risada, erra e corrige ao vivo. Tudo em linguagem simples, sem jargão técnico e sem cerimônia. Em vez do distanciamento clássico do estúdio, há proximidade de tela e a sensação de “assistir junto”. O chat virou arquibancada; os cortes, combustível de rede social; os bastidores, conteúdo por si só. O resultado mexeu nos hábitos de consumo — e no mercado publicitário, que seguiu o público.

Em dois anos e meio, a CazéTV acumulou transmissões com recordes nacionais na internet, consolidou grade própria e virou referência para quem quer ver grandes eventos fora da TV. Isso não derrubou a Globo — ainda é a maior força do esporte no país —, mas abriu uma avenida que não existia em 2018: grandes jogos ao vivo, de graça, em plataformas abertas, com linguagem de internet e patrocínios formatados para engajamento.

Dentro do negócio: quem manda, como opera e onde a CazéTV quer chegar

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Nos bastidores, a LiveMode é a engrenagem que faz o projeto rodar. A empresa toca as frentes que exigem peso de negociação: compra e sublicenciamento de direitos, parcerias comerciais com marcas, proteção antipirataria, pacote tecnológico de produção e distribuição. É ela que alinha os contratos com federações e ligas, planeja as cotas de patrocínio, desenha as entregas de mídia e coordena a operação técnica com estúdios, narradores, comentaristas e equipes externas.

O modelo financeiro mistura três pilares: patrocínios de cota (as marcas que “carimbam” a transmissão), ativações e quadros de branded content (ações dentro dos programas, com linguagem de internet) e publicidade dinâmica nas plataformas. Como a distribuição acontece principalmente em ambientes abertos, a escala de audiência compensa o ticket unitário de anúncio. Para eventos gigantes, entram também pacotes especiais e acordos sob medida com entregas multitelas.

Na parte técnica, a operação combina produção de estúdio, captação remota e centros de controle que recebem sinais por redes dedicadas. Isso reduz custo de OB van em alguns cenários e permite montar narrativas com mais câmeras virtuais, grafismos e interação do chat. Há desafios: latência maior que a da TV, flutuação de banda do público e guerra permanente contra restreams piratas. Ainda assim, a experiência evoluiu rápido — e a audiência se acostumou a pequenas diferenças de atraso quando o retorno é um conteúdo mais próximo.

A parceria com ligas e federações cresceu porque entregou três coisas que o esporte brasileiro precisava: visibilidade para torneios fora do eixo, calendário regular com cara de produto digital e métricas completas de engajamento. Paulistão e Copa do Nordeste, por exemplo, ganharam uma segunda janela com linguagem própria, sem canibalizar outras mídias. No futebol feminino, a cobertura frequente ajudou a formar público além das decisões, com jogos, pré-jogos e bastidores.

Em eventos internacionais, a estratégia é clara: somar programa diário, bastidor e reação de rede social à transmissão principal, esticando o “ciclo de conversa” de cada competição. Na Copa e na Olimpíada, o que antes morria ao apito final virou conteúdo para a madrugada: cortes de lances, entrevistas, trechos das lives, reencontros com memes. Esse ecossistema prolonga a relevância e mantém a audiência na mesma casa por mais tempo.

Há um ponto sensível que volta e meia vira boato: vínculo com a Globo. A resposta é direta. A CazéTV opera de forma independente, negociada e gerida pela LiveMode, sem relação societária com a emissora. Em várias competições, os pacotes são fatiados por janelas e plataformas; isso faz com que coexistam transmissões em TV aberta, TV por assinatura, pay-per-view e streaming aberto. Competem quando brigam pelo mesmo pacote; coexistem quando os direitos são divididos por meios.

Do lado da audiência, a chave do sucesso foi adaptar formato e ritmo para a tela do celular. Partes curtas, linguagem simples, informação sem rodeio e humor no ponto. O pré-jogo não precisa de uma hora; pode ter 15 minutos ágeis, com perguntas do chat e gráfico na tela. O pós-jogo conversa com o meme da vez, não com uma pauta fechada horas antes. E quando o calendário dá folga, entram lives de reação a notícias do dia, que funcionam como termômetro da comunidade.

O canal cresceu sem renegarem a essência de streamer. Cazé continua sendo Cazé: comenta, reage, erra e acerta ao vivo. Só que agora há times de produção, chefia de conteúdo, roteiristas, editores e operações comerciais de grande porte. O tom segue próximo, mas o processo ficou mais profissional, com planejamento de grade, metas de entrega para patrocinadores e cuidado jurídico sobre uso de imagens. É o equilíbrio entre espontaneidade e padrão de broadcast.

O avanço também mexeu com as carreiras ao redor. Narradores, comentaristas e repórteres migraram ou passaram a transitar entre TV e streaming, num rodízio que seria impensável há cinco anos. Clubes e federações revisitaram contratos e modelos de venda, testando jogos em canal aberto digital enquanto mantêm pacotes premium em TV ou OTT. E marcas, antes concentradas em intervalos tradicionais, hoje pedem quadros próprios, filtros no shorts, cortes para outras redes e ações dentro do chat.

Nem tudo é festa. Há um jogo pesado fora de campo: direitos esportivos ficaram mais caros, o dólar flutua, a competição por atenção é brutal e plataformas mudam regras do dia para a noite. O desafio é manter margem em anos sem Copa ou Olimpíada, quando o calendário perde seus picos naturais. A saída passa por criar franquias originais, ampliar torneios recorrentes, fortalecer torneios femininos e regionais e diversificar receitas para além do modelo centrado em grandes eventos.

A régua de performance também mudou. Não basta medir “ponto” de TV: hoje se acompanha tempo médio de visualização, retenção por bloco, mensagens por minuto no chat, CTR das ativações, conversão em assinaturas de parceiros e crescimento de base ao longo da temporada. Essa leitura orienta desde o jeito de abrir a live até a ordem dos quadros, e explica por que o digital conseguiu desafiar o monopólio cultural da tela grande.

No curto prazo, os marcos no radar são claros. O Mundial de Clubes de 2025, inédito no formato, deve concentrar fortes verbas e atenção global. A experiência acumulada na Copa de 2022 e em Paris 2024 ajuda a calibrar equipe, captação e patrocínios. A Copa de 2026, com Estados Unidos, Canadá e México, promete janelas amigáveis para o digital e uma nova corrida por direitos e integrações comerciais. No Brasil, a disputa por estaduais, Copa do Nordeste e Brasileirão em novos arranjos de liga vai revelar quem aprendeu melhor a vender o produto em múltiplas telas.

Cazé virou símbolo de uma mudança geracional. Não porque inventou a roda — assistir jogo com amigos existe desde sempre —, mas porque levou essa mesa de bar para dentro de um estúdio com câmera, chat e patrocinador, e entregou um produto que fala a língua de quem está no celular. A parceria com a LiveMode deu lastro para negociar com gente grande, montar operação complexa e escalar sem perder o traço principal: a conversa direta, olho no olho digital.

Na prática, a CazéTV provou que o fluxo pode ser outro: direitos comprados com foco em distribuição aberta, linguagem de internet, comunidade como ativo e marcas entrando como parceiras de conteúdo, não só como compradoras de intervalo. A Globo continua enorme, e continuará. Mas agora tem um concorrente real no campo digital, que formatou um caminho para eventos que não cabiam na grade tradicional e passou a disputar, de igual para igual, a atenção de quem assiste pelo celular, com fone no ouvido e o chat aberto.

Para o torcedor, o efeito é bom: mais opções de onde e como ver o jogo, mais vozes, mais formatos e mais chance de encontrar uma cobertura que combine com o seu jeito. Para o mercado, é alerta: a briga por direitos e audiência não é mais só preço e cobertura; é linguagem, produto e capacidade de transformar transmissão em conversa. E nisso, por enquanto, a casa que leva o apelido do dono sabe jogar.

14 Comentários

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    Ana Paula Dantas

    setembro 7, 2025 AT 19:52
    Cazé não inventou nada, só mostrou que o povo quer futebol sem jargão e com risada. A Globo ainda domina, mas o chat tá mais vivo que o telão.
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    Wellington Rosset

    setembro 8, 2025 AT 08:44
    Essa história é um exemplo perfeito de como a tecnologia e a autenticidade podem derrubar monopólios. Cazé não é só um comentarista, é um fenômeno cultural. Ele falou como um brasileiro comum, sem medo de errar, e isso conectou. A LiveMode entendeu que o valor não está só nos direitos, mas na comunidade. E olha só: o público não quer mais ser tratado como massa. Quer ser parte da conversa. E aí, quem vai segurar isso? Ninguém. A era do discurso frio de estúdio acabou. O futuro é o chat, o meme, o erro ao vivo e o abraço digital.
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    camila berlingeri

    setembro 9, 2025 AT 21:37
    Se você acha que CazéTV é independente, tá dormindo. A LiveMode é só a ponta do iceberg... a Globo tá por trás disso tudo, só que disfarçado. Quem financia isso? Quem controla os direitos? Tá tudo ligado. Eles só querem que a gente acredite que o digital é revolução... mas é só marketing.
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    Joseph Nardone

    setembro 11, 2025 AT 11:14
    Será que a gente está confundindo inovação com nostalgia? Cazé fala como um amigo, mas será que isso é realmente novo? O torcedor sempre quis sentir que estava na arquibancada. A diferença agora é que a tecnologia permitiu que isso virasse produto. Mas o que é mais importante: o formato ou a intenção? Será que o esporte perde algo quando vira entretenimento?
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    Maria Emilia Barbosa pereira teixeira

    setembro 12, 2025 AT 10:30
    Essa narrativa de 'desafio à Globo' é pura farsa ideológica. A CazéTV é um produto de capitalismo de plataforma, onde o carisma é mercadoria e o chat é algoritmo. O que vocês chamam de 'autenticidade' é na verdade uma fachada comercialmente otimizada. Eles usam o linguajar do povo para vender anúncios. É neo-populismo digital. E o pior: vocês acreditam que isso é libertação. É escravidão com emoji.
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    valder portela

    setembro 14, 2025 AT 02:16
    Acho que o mais legal disso tudo é que o Cazé não tentou ser alguém que não é. Ele só continuou sendo o mesmo cara que comentava com os amigos. E isso virou algo maior. Não é só sobre esporte, é sobre confiança. As pessoas confiam nele porque ele não tenta parecer um apresentador. É um lembrete simples: às vezes, a melhor coisa que você pode fazer é ser você mesmo.
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    Marcus Vinicius

    setembro 15, 2025 AT 15:59
    A análise técnica da operação da LiveMode é impecável. A integração de infraestrutura de transmissão remota com controle centralizado demonstra maturidade operacional rara no cenário brasileiro. A redução de custos com OB vans, aliada à escalabilidade da distribuição em plataformas abertas, configura um modelo de negócio viável e replicável. Contudo, a latência e a pirataria permanecem como gargalos sistêmicos que exigem soluções criptográficas e de blockchain para mitigação eficaz.
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    Filomeno caetano

    setembro 15, 2025 AT 19:27
    VOCÊS NÃO SABEM O QUE ESTÃO PERDENDO. Cazé é a única coisa que ainda me faz torcer sem odiar. A Globo me dá sono, a ESPN me enche o saco, e o Canal da Copa? Nada. Mas CazéTV? Eu entro, fico, risco, mando meme, e quando o gol sai, eu grito com o chat. Isso não é esporte, é vida. E se alguém diz que é só marketing, tá errado. É emoção real. E se o mercado tá atrás disso? Tá bom. Quem se importa? Eu tô aqui, com fone no ouvido, e o mundo tá certo.
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    Wellington Eleuterio Alves

    setembro 16, 2025 AT 16:46
    Cazé é um palhaço com câmera e patrocínio de cerveja e o que a gente chama de 'autenticidade' é só um roteiro bem escrito por um time de marketing que sabe exatamente onde apertar o botão da emoção. O povo acha que tá assistindo um amigo, mas tá assistindo um comercial de 3 horas. E aí vocês ficam emocionados com o 'meteu essa?'... isso é uma armadilha psicológica feita por quem entende de neurociência do consumo. A verdade é que o esporte tá sendo vendido como um reality show. E o pior? Você tá gostando.
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    Alisson Henrique Sanches Garcia

    setembro 17, 2025 AT 23:54
    Tudo isso é simples: Cazé fala como a gente. Não tem jargão, não tem pressão. Se erra, ele ri. Se acerta, a gente vibra. E isso é mais valioso que qualquer contrato de direito. A Globo não entende isso. Eles ainda acham que o povo quer um locutor com gravata.
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    Gaby Sumodjo

    setembro 18, 2025 AT 20:36
    EU JÁ SABIA QUE A GLOBO TAVA POR TRÁS DISSO! TÁ TUDO MONTADO! Cazé é só um boneco! A LiveMode é da Globo disfarçada! Eles querem que a gente acredite que o digital é o futuro, mas é só pra desgastar a TV aberta e depois botar tudo em pay-per-view! E ainda por cima, aí vem o meme do 'meteu essa?' e todo mundo vira escravo do algoritmo! #FicaADica #GloboNãoÉInocente #CazéTVÉPropaganda
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    Fernando Augusto

    setembro 19, 2025 AT 08:43
    Acho que o maior mérito da CazéTV não é a audiência ou os contratos, mas o fato de ter feito o esporte voltar a ser algo coletivo. Antes, você assistia sozinho, em silêncio, com o controle na mão. Hoje, você tá num grupo, rindo, discutindo, mandando GIF, e quando o gol sai, é como se todos tivessem feito o gol juntos. Isso é mais poderoso do que qualquer transmissão em HD. O esporte tá voltando pra rua, só que agora a rua é digital. E isso é bonito. A gente tá construindo algo novo, sem precisar de permissão.
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    Bruna Soares

    setembro 19, 2025 AT 11:06
    EU NÃO AGUENTO MAIS ESSA HISTÓRIA DE 'Cazé É O NOVO HERÓI'! ELE NÃO É NADA! É SÓ UM CARA QUE FALA MUITO E NÃO SABE NADA DE FUTEBOL! E A GENTE ACHA QUE É GENIAL PORQUE ELE RISCA? QUEM É QUE APOIA ISSO? A GENTE VIRA CRIANÇA PRA VER UM CARA FAZER PIADA NO MEIO DE UM JOGO! A GLOBO PELO MENOS TEM LOCUTORES QUE SABEM O QUE ESTÃO DIZENDO! ISSO AQUI É UMA FARSAAAAA! #CazéTVÉFALSO #FUTEBOLNÃOÉCOMÉDIA
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    Odi J Franco

    setembro 21, 2025 AT 02:31
    Sei que muitos aqui estão com críticas duras, mas vou dizer uma coisa: quem se importa? O que importa é que o esporte tá mais vivo agora do que há 10 anos. Se Cazé consegue fazer milhões de pessoas se sentirem parte de algo, isso já vale. Não precisa ser perfeito. Não precisa ser técnico. Basta ser humano. E se o mercado tá atrás disso? Tudo bem. O importante é que o torcedor tá feliz. E isso, no fim, é o que realmente importa.

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